É praticamente impossível percorrer as ruas de Porto Alegre sem se deparar com o autógrafo "Toniolo" em muros, monumentos e prédios públicos. O autor das pichações, Sérgio José Toniolo, acredita que essa notoriedade pode agregar valor a produtos e serviços (lojas de tintas, por exemplo), e por isso decidiu colocar sua imagem à disposição dos meios de comunicação.
Anônimo famoso
Sérgio Toniolo é real. Morador do bairro Petrópolis, solteiro, 58 anos, Segundo Grau completo, escrivão de polícia aposentado por problemas psiquiátricos desde os 42, ele é protagonista de uma história repleta de fatos inusitados e polêmicos - tudo confirmado pela clipagem de matérias publicadas em jornais do Rio Grande do Sul e do Brasil, as quais ele coleciona em uma farta pasta-arquivo.
Em 1980, tornou-se recordista nacional de participação nas seções de "cartas do leitor" dos principais veículos do País, com mais de mil mensagens publicadas desde 1972 - os assuntos iam da indignação com as fezes de cães nas calçadas às complexidades da reforma ortográfica da Língua Portuguesa, todos redigidos com clareza e objetividade dignas de um colunista profissional.
Não demorou para que os políticos esfregassem as mãos. Em 1982, o telegrama de um ilustre senador do Partido Popular (PP) mudaria sua vida para sempre.
- Nosso partido necessita sua ajuda. Conte com meu apoio para candidatura a cargo de sua preferência. Abraços, Tancredo Neves.
A Justiça Eleitoral, no entanto, barrou tais pretensões, sob alegação de que o escrivão era filiado ao PTB - o que ele não admite.
Problemas com a Justiça
Além de 3 mil sprays e 70 mil pichações, a memória do ex-policial contabiliza também tiros, ameaças de morte, prisões, uma internação psiquiátrica e incontáveis processos por incitamento ao voto nulo, perturbação da ordem e depredação.
Ataque ao Palacio Piratini
Em janeiro de 1984, último ano do regime militar no Brasil, ele anunciou no programa Guaíba Revista, então apresentado por Lasier Martins na rádio Guaíba AM:
- No dia 17 deste mês, às cinco da tarde, vou pichar o Palácio Piratini.
A notícia repercutiu. O então governador, Jair Soares (PDS), não quis pagar para ver, e colocou dezenas de policiais militares de prontidão em frente ao prédio. Para identificar o pichador, havia uma foto 3X4 obtida nos arquivos da polícia civil, onde ele trabalhara 17 anos. O retrato, defasado, mostrava-o cabeludo.
Na hora marcada, ninguém suspeitou do homem calvo que saía da Catedral Metropolitana e se dirigia à sede do governo.
- Boa tarde! disse ele aos policiais!
A saudação confundiu os brigadianos, que deixaram passar quem eles acreditavam ser algum padre da paróquia. Tarde demais: Toniolo conseguiu pichar as letras T, O, N, I, O... assim que concluiu o "L", foi detido (foto).
- Estou trazendo dois dementes com "mania de policial": segurem-nos, enquanto vou buscar os documentos que esqueci na viatura, e tomem cuidado, pois eles são perigosos!
Com a inversão de papéis, os plantonistas correram em direção aos agentes, agarrando-os como se fossem mais dois candidatos à camisa-de-força. Quando desfeito o equívoco, era tarde demais. O ex-escrivão tinha escapado pelos fundos do prédio.
Em novembro do mesmo ano, ele divulgou que sua próxima investida seria contra o Palácio do Planalto, mas foi preso logo após deixar Porto Alegre no ônibus que o levaria a Brasília/DF. "Dessa vez, eu sabia que seria preso, e o objetivo era esse mesmo", revela. O mais incrível é que, até hoje, não se sabe como o nome "Toniolo" foi aparecer pichado no mesmo local e data prometidos.
Tênis TONIOLO meu Rei by ÉS
Decks produzidos para a ghetto em 2006 -
*(Fonte: Artigos do Site Terra [por Marcello Campos])*
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